Nistagmo
O nistagmo é a movimentação involuntária dos olhos, caracterizado por movimentos rítmicos, anormais que podem ser verticais, torcionais ou combinados e indicam alteração do sistema visual. Pela instabilidade do olhar, a fixação...

O nistagmo é a movimentação involuntária dos olhos, caracterizado por movimentos rítmicos, anormais que podem ser verticais, torcionais ou combinados e indicam alteração do sistema visual. Pela instabilidade do olhar, a fixação do indivíduo é prejudicada, sendo assim, grande parte dos nistagmos estão associados a visão reduzida. O nistagmo não é em si uma doença, e sim um sinal de alteração visual. A prevalência descrita de nistagmo patológico é de aproximadamente 10 para cada 10.000 e a prevalência para o nistagmo pediátrico é de 17 para cada 10.000. A frequência para nistagmo adquirido é estimado em 17% em crianças e em 40% em adultos.
O nistagmo pode aparecer em qualquer idade e as manifestações clínicas são diversas. Quando o nistagmo se apresenta de forma constante, é denominado nistagmo manifesto. Quando seu aparecimento está associado a cobertura de um dos olhos, é denominado nistagmo latente. Ainda é possível ter a associação das duas formas, nistagmo manifesto + latente, quando o indivíduo apresenta o nistagmo constante e ao ocluir um dos olhos, o nistagmo “piora”, aumentando a frequência (velocidade) e/ou amplitude do movimento.
É classificado de acordo com o padrão, velocidade e direção do movimento dos olhos, que pode ser horizontal, vertical e/ou rotatório.
Com relação ao padrão, os mais comuns são: o nistagmo pendular, no qual os olhos realizam um movimento de pêndulo, mantendo velocidade constante e simétrica em todas as direções do movimento e o nistagmo do tipo jerk. Este último é caracterizado por um movimento composto por duas fases: um deslocamento lento para uma determinada direção seguido por um movimento rápido de recuperação ao estado inicial.
O nistagmo pode variar conforme a direção do olhar, aumentando ou diminuindo frequência e amplitude e em determinada posição, que varia de pessoa a pessoa e geralmente envolve movimento de cabeça e pescoço, é possível “parar” o nistagmo. Esta posição é denominada ponto de bloqueio. Muitas crianças desenvolvem torcicolo por adotarem constantemente essa posição de bloqueio para melhorarem a visão.
Com relação à idade, se o aparecimento for até os 6 meses de vida, o nistagmo é considerado congênito. Após essa idade, o nistagmo é considerado adquirido. Nos 2 primeiros anos de vida, o nistagmo adquirido mais comum é o spasmus nutans. O diagnóstico é feito pela observância de três manifestações clínicas conjuntas: nistagmo, oscilação de cabeça e torcicolo.
Causas
Em geral, as causas estão associadas com doenças na retina, do nervo óptico ou do cérebro, tais como:
- Distrofias retinianas (Amaurose congênita de Leber, Distrofia de cone-bastonete, acromatopsia)
- Hipoplasia do nervo óptico
- Tumores de vias ópticas
- Traumas ou lesões cerebrais
- Acidente vascular cerebral
- Alteração vestibular
- Uso de drogas
Existe nistagmo que não seja patológico?
Existe sim! Ao vermos uma imagem em movimento com padrão de repetição, (por exemplo, quando estamos no trem e ao olharmos pela janela observamos as árvores passando) ocorre um fenômeno conhecido como nistagmo optocinético que nada mais é do que o movimento de refixação que os olhos fazem ao perder o alvo que passou.
O tambor de Bárany utiliza esse mecanismo para avaliar qualitativamente a movimentação dos olhos dos bebês por meio da rotação de seu cilindro pintado com faixas verticais pretas e brancas.
Diagnóstico
O oftalmologista deve ser consultado assim que perceber o nistagmo. A investigação poderá envolver outros profissionais como neuro-oftalmologista, neurologista ou até mesmo o otorrinolaringologista, a fim de identificar as causas de origem ocular, cerebral, sistêmica ou por alteração vestibular. Exames complementares como neuroimagem, avaliação do fundo de olho e testes eletrofisiológicos são úteis principalmente em nistagmos infantis.
Eletrofisiologia no nistagmo
Os exames eletrofisiológicos auxiliam na identificação de doenças oculares associadas ao nistagmo.
Potencial visual evocado por padrões ou PVE padrões reversos, PVE clássico é utilizado para avaliação do sistema visual e identificação de possíveis lesões na via óptica como tumores, presença de neuropatia óptica, entre outros.
Eletrorretinografia de Campo total ou ERG Campo total é utilizado para investigação de doenças da retina, como as distrofias retinianas (Amaurose congênita de Leber, Retinose Pigmentária, Distrofia de cones, entre outras), pois avalia o funcionamento das células da retina.
Potencial Visual Evocado por Multicanais ou PVE multicanais auxilia o diagnóstico de albinismo ocular, outra possível causa do nistagmo, pois identifica a presença de decussação anômala das fibras do nervo óptico, característica presente em boa parte dos portadores de albinismo ocular.
Potencial Visual Evocado de Varredura, ou PVE varredura, é indicado para medir a visão de bebês, crianças ou indivíduos com alteração neurológica importante, como pós AVC grave ou com atraso no desenvolvimento, que não conseguem informar a visão pelos métodos tradicionais medidos no consultório (tabela com as letras). O nistagmo pode atrapalhar a visão e em bebês pode prejudicar o desenvolvimento da visão que deve ser acompanhado.
Tratamento
Não há cura para o nistagmo, mas os tratamentos visam melhorar o aspecto clínico e fisiológico do indivíduo. O tratamento varia a cada caso, sendo necessário a abordagem na correção de erros refrativos e o foco no tratamento da ambliopia. Pode ser necessário a intervenção cirúrgica, e ainda a aplicação de toxina botulínica, tratamentos sistêmicos e suspensão das substâncias ou medicamentos associados ao nistagmo. A estimulação visual e terapias complementares são de extrema importância para auxiliar o indivíduo com baixa visão e melhorar as atividades do dia a dia.
Leitura sugerida
Bertsch M, Floyd M, Kehoe T, Pfeifer W, Drack AV. The clinical evaluation of infantile nystagmus: What to do first and why. Ophthalmic Genet. 2017 Jan-Feb;38(1):22-33. doi: 10.1080/13816810.2016.1266667. PMID: 28177849; PMCID: PMC5665016.
Kurent A, Stirn-Kranjc B, Brecelj J. Electroretinographic characteristics in children with infantile nystagmus syndrome and early-onset retinal dystrophies. Eur J Ophthalmol. 2015 Jan-Feb;25(1):33-42. doi: 10.5301/ejo.5000493. Epub 2014 Jul 28. PMID: 25096283.
Sacai PY, Berezovsky A, Cavascan NN, Rocha DM, Garan KS, Dotto-Turuda P, Salomao SR. Grating Acuity Maturation in Preverbal/Non-verbal Children with Nystagmus. Invest Ophthalmol Vis Sc. 2012, 53(14), 1764-1764.















